domingo, 16 de maio de 2010

A Província Morna




Imagem by José Luis Magalhães


O AFERIDOR
(Manoel de Barros)

"Tenho um Aferidor de Encantamentos.
A uma açucena encostada no rosto de uma criança
O meu Aferidor deu a nota dez.
Ao nomezinho de Deus no bico de uma sabiá
O Aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura
O Aferidor deu nota vinte.
Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada
sentado nas pedras de suas próprias ruínas
O meu Aferidor deu DESENCANTO.
(O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai.)"



Tenho uma grande amiga, jakutinga, geminiana, melancia quente, espitiruosa, alegre, divertida, inteligente e muitas vezes "no cano", like me.

Conversamos muito sobre nossas vidas, nossos amores, nossos dissabores, nossas dúvidas, nossos medos. Quando conversamos sobre diversos assuntos, principalmente os do coração, sempre privilegiamos a alegria, o amor, o "ser feliz", claro que, sem prejudicar ou fazer sofrer quem quer que seja.

Ontem, chegamos à conclusão que o universo masculino é muito diferente do nosso. Sabemos disso há muito tempo, mas o insight da conversa de ontem, assim como a conclusão que chegamos foi muito específica, existe uma "confraria masculina" que se retroalimenta das suas regras para que assim possa sobreviver, tanto a confraria quanto o Homo Lineares*, que segue o curso da vida de maneira sempre linear, segura, sem sobressaltos.



A PROVÍNCIA MORNA**
(by Bi@)

Existe um corporativismo com pseudônimo de amizade que manipula a vida dos outros de forma a não permitir que correntes sejam quebradas, nem com o intuito da felicidade. Refiro-me às correntes do que é preestabelecido - como se o homem só pudesse agir de uma forma para se autoafirmar perante à classe masculina.

Ainda não fui clara? Então vou desenhar: o cara te vê feliz, alçando vôos inacreditáveis. Pensa que, se você continuar voando com tamanha felicidade, pode transpor os limites conhecidos, encontrar uma terra mais feliz ainda do que a província em que vive. Pode ser que nessa terra nova haja furacão, vulcão, mas viveria com o coração acelerado, com possibilidade do bem ou do mal.

Como isso é uma ameaça aos habitantes da "Província Morna", torna-se uma convenção o aconselhamento de tirá-lo desse grande perigo. E é nesse momento que os homens levam os rótulos. Da entrega do coração à paixão à perda do romantismo. O corporativismo faz a indústria dos rótulos. Não quebrar paradigmas é o lema.

Que tal tentar ser menos previsível? Não seria bom entrar de peito aberto e descobrir sozinho se essa terra nova tem solo fértil? Muito mais cômodo é ouvir o macho beta, ops, desculpe, o "amigo" (rsrsrs).

Já que é assim, "suerte" a todos os que têm esse "amigo" com quem, entre uma cerva e outra, passarão noites tórridas de convencimento, a terem a visão do paraíso mas se contentarem em permacer com os pés fincados no infrutífero solo cansado da "Província Morna".



PS.:
* Homem Linear, o lineares é por minha conta, nem sei se existe este termo em latim.
** Lugar onde habita o Homo Lineares.

Um comentário: